As palavras "tecnologia" e "popular" não aparecem frequentemente em conjunto. Vivemos um paradoxo: por um lado, os computadores multiplicam-se como cogumelos nos nossos pulsos, nos electrodomésticos, nos carros, nas escolas, locais de trabalho e órgãos de governo das nossas cidades e países. O regime económico vigente investe largas somas para que cada vez mais áreas da nossa vida e da democracia se tornem dependentes da tecnologia digital. Apregoa a "transição digital" como um objectivo inerentemente bom [1], sem contraditório ou questionamento, enquanto esconde que o caminho actual de desenvolvimento da tecnologia potencia estados autoritários, promove novas censuras e acelera o esgotamento dos recursos naturais do planeta e as alterações climáticas.
Por outro lado, a maioria de nós continua a dizer "sou um nabo nisto", e há até indícios de que a juventude tem hoje menos conhecimento sobre a forma como funcionam os computadores [2]. Há quem diga que a internet é a invenção mais complexa do ser humano e que ninguém sabe explicar ao certo tudo o que a faz funcionar.
A boa notícia é que há muitas coisas que podemos fazer para recuperar este grande poder das mãos de experts e grandes empresas, de volta para as mãos do povo. Embalados por um espírito de universidade popular e entreajuda, convidamos toda a gente — pessoas novas e velhas, nabos e experts — a encontrar-se connosco, ouvir, pensar e discutir, a colocar as suas dúvidas, a trazer coisas avariadas e ousar tentar repará-las. A tasca é o sítio perfeito. Só não vale pousar as bebidas junto aos computadores, está bem?
[1] Ver artigo "O fim das utopias? Inovação, tecnologia e desenvolvimento" na revista online Outras Economias
[2] Ver artigo "Kids who grew up with search engines could change STEM education forever", na revista online The Verge (em inglês)